Ele foi radialista, musicólogo, folclorista, intérprete musical, pesquisador, speaker e colecionador. Integrou o Bando dos Tangarás, que em 1929 imortalizou o samba “Na Pavuna”, assimilando em gravações fonográficas, pela primeira vez, o ritmo candente de cuícas, pandeiros e tamborins. Foi amigo e parceiro de Noel Rosa – e escreveu sobre ele uma notável biografia afetiva. Promoveu um concurso em 1940 para criar uma letra própria, em português, para a indefectível “Happy Birthday To You”, que acabou resultando numa melodia que todos conhecemos, com versos bem superiores aos vocativos repetitivos do original. Em 1939, junto com Carmen Miranda, ambos pintados de preto, cantaram “Boneca de Piche”, de Ary Barroso. Concebeu e comandou quase uma dezena de programas que fizeram história no rádio brasileiro. Chamava-se Henrique Foreis Domingues, mas por ter feito o serviço militar na Marinha ganhou o nome de Almirante, que acabou pegando, com o acréscimo de a mais alta patente do rádio.
Estas referências não parecem nem um pouco exageradas e nem fazem justiça a um personagem cuja trajetória catalisadora confunde-se com a própria história do rádio e da música brasileira. Sensível a tudo isso, a historiadora Giuliana Souza de Lima oferece ao leitor uma reconstrução detalhada e crítica da trajetória daquele que foi uma espécie de alma do rádio brasileiro dos primeiros tempos, contribuindo para sanar mais uma daquelas inexplicáveis lacunas da memória cultural brasileira.